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170913 uribeColômbia - Opera Mundi - Em entrevista exclusiva a Opera Mundi, "Don Mario" fala do envolvimento de políticos e empresários no paramilitarismo colombiano.


Em abril de 2009, Don Mario estava atravessando a meia-idade. Fazia muito tempo que ninguém o chamava de Daniel Rendón Herrera, seu nome de batismo. Pelas suas contas, o governo colombiano havia estabelecido por sua cabeça uma recompensa de mais de 2,5 milhões de dólares – cifra que conseguia em apenas um mês graças ao tráfico de cocaína. Não por acaso, naquele mesmo mês, quando o capturaram, Don Mario era considerado o novo Pablo Escobar.

Oscar Naranjo, um policial “estrela” na Colômbia, estava ainda no comando. A jornalistas, ele explicou que Don Mario, somente nos 18 meses anteriores, tinha sido responsável por 3.000 assassinatos e por enviar 100 toneladas de cocaína para os Estados Unidos.Depois de três anos, o ex-paramilitar e narcotraficante aceitou dar uma entrevista exclusiva a Opera Mundi, rompendo um silêncio que durava anos e reconstruindo o caminho que o levou a fazer parte das AUC (Autodefesas Unidas da Colômbia), o grupo paramilitar mais sangrento do continente e, depois, a ser chefe dos bandos criminosos emergentes (apelidados de BACRIM), chegando a ser considerado o mais importante traficante do país. Fato que ele nega.É uma vida que atravessa a história recente da Colômbia, perto dos irmãos Castaño, fundadores dos grupos paramilitares das AUC. Desmobilizado no processo de paz com o governo de Álvaro Uribe, ele escapa e volta a formar os novos paramilitares. Atualmente está preso e recentemente lhe foram negados os benefícios da Lei de Justiça e Paz, após a justiça considerar que "continuava deliquindo" da prisão e não havia colaborado com a "verdade".

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"Defenda a pátria", teria pedido Uribe a deputada que vendeu voto para reeleiçãoApós sua captura em Urabá, em 15 de abril de 2009, Rendón Herrera se havia negado a receber benefícios em troca de confissões sobre sua responsabilidade no paramilitarismo e na formação de grupos criminosos, mas logo pediu a postulação frente à ameaça de extradição para os EUA. OM: Por que você entrou nos grupos paramilitares?
Don Mario: Tudo começou em Medellín, em 1988, quando eu trabalhava em um bar de bilhar da minha família. Um conhecido, Miguel Arroyave, me apresentou para Vicente Castaño. Nós também tínhamos saído da nossa cidade, Amalfi, por causa das FARC [Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia], e a família Castaño e os Arroyave também eram de lá. Comecei a trabalhar com Don Vicente pelo menos até 1991, quando passei para o bloco Centauros na região de Llanos Orientales, sob o comando de Arroyave, que me batizou como Don Mario. Eu sou rápido com os números e sempre trabalhei na parte administrativa e financeira, com questões de dinheiro e de armas. Mas sempre fui uma pessoa de confiança de Vicente Castaño.

OM: Qual é a sua opinião sobre o processo de Justiça e Paz do governo Uribe?
DM: Traíram-nos. E, além disso, premeditaram essa traição! Durante as negociações tinham nos prometido colônias agrícolas em troca das prisões, cumprir as penas na Colômbia e muitíssimas outras coisas, mas no dia seguinte à desmobilização do último bloco das AUC, o Élmer Cárdenas, sob o comando do meu irmão, com o qual eu me desmobilizei, nos levaram todos presos, todos os comandantes, e podem ver como estamos agora.

Um líder político deveria pensar no benefício da comunidade e não no próprio benefício, mas o governo Uribe tinha sido tachado de paramilitar e o presidente quis blindar sua imagem, demonstrando que não tinha nada a ver com as AUC.

OM: Ele não tinha na a ver?
DM: Por Deus, não tenho provas, mas sim posso dizer que ele foi simpatizante porque todos os seus bens e propriedades estão em Montería, em Córdoba, que é o berço das AUC, e em contrapartida ele não tem nada no território das FARC. Então para demonstrar que não tinha nada a ver conosco nos traiu e isso gerou muitos problemas, tanto que 4.000 dos nossos não se desmobilizaram e ficaram sem chefes porque foram extraditados. Chamam a estes grupos agora de BACRIM, mas são as mesmas autodefesas de antes com nomes diferentes. O próprio Vicente Castaño foi quem chamou os comandos médios para que voltassem a exercer o controle territorial. As AUC eram enormes, vocês pensam que com 14 chefes extraditados e uns milhares no processo de Justiça e Paz os paramilitares da Colômbia terminam?

OM: Quando isso aconteceu?
DM: Pouco depois da minha desmobilização. Don Vicente os reorganizou e os chamou, no começo, de Autodefesas Heroicas de Castaño. Em 2008, quando Vicente foi assassinado, os grupos já eram uma realidade nacional.

[Ex-presidente colombiano Álvaro Uribe é acusado de envolvimento com os grupos paramilitares]

Foi quando diferentes comandantes do bloco no país me chamaram para uma reunião e me pediram o favor de ser porta-voz frente ao governo para começar um novo processo e superar os descumprimentos.

Escrevi para Luis Carlos Restrepo, comissário da paz, e, como resposta, ele disse que eu o ameacei e que eu era o chefe de todos os grupos neoparamilitares. Neste momento, me transformei no homem mais procurado do país.  Me acusavam de tudo o que acontecia na Colômbia, e tudo não era Daniel Rendón Herrera!O ex-presidente Uribe tem responsabilidade por esses grupos. Sem contar que todos os desmobilizados não têm emprego e alternativas de vida. Assim não se faz a paz!OM: Por que extraditaram todos os chefes?
DM: Aqui tiveram prioridade não os interesses das vítimas, não que a verdade fosse dita. Como vamos poder devolver, dos EUA, os restos das vítimas nas fossas comuns? Não temos apoio suficiente para dizer a verdade e para que nossos bens sirvam como reparação às vítimas.

Só eu denunciei bens que valem mais de 25 milhões de dólares, que pertenciam ao Bloco Centauros das AUC. Hoje os testas-de-ferro estão utilizando muitos mecanismos para fazer com que estes bens não terminem no fundo de reparação das vítimas. E eu sou o único do bloco que denunciou bens. Por isso me deixam isolado dia e noite em um cubículo.OM: Mas, falando da relação entre os paramilitares e Uribe. Vocês votaram nele?
DM:Para ninguém é segredo que todos recebemos a mensagem que a campanha do presidente Uribe deveria ser apoiada, porque ele ia nos dar uma saída política. A guerra na Colômbia não foi feita por nós sozinhos; ela foi apoiada pelas associações econômicas, pelos organismos de segurança do Estado e pelos políticos. Mas agora, quando falamos dessas relações, dizem que somos maus e mentirosos. Todos estiveram vinculados no combate contra insurgências: os empresários na parte econômica; o exército nos protegendo e os políticos que nós elegíamos.OM: Seu irmão, Fredy Rendón Herrera, que como comandante das AUC era conhecido como o Alemão, falou no tribunal superior de Bogotá sobre uma relação direta entre Santiago Uribe, o irmão do ex-presidente, e Vicente Castaño, chegando a dizer que: “os irmãos do ex-presidente Uribe não são filhos da Madre Teresa”.
DM: Houve uma relação enorme entre as AUC e os políticos, mas agora é muito complicado prová-la. Temos um dos chefes extraditados e outros isolados. Como posso contar o que eu sei, se não me permitem conversar com testemunhas e reunir provas para demonstrar esses vínculos? Meu irmão foi processado pelo que disse sobre Santiago Uribe. Tenho medo de contar mais, por isso espero ser extraditado, para poder contar mais verdades e ser protegido nos EUA.

OM: Poderia aproveitar a imprensa.
DM: Que perguntem aos militares do bloco de Rogrido Doblecero, do Bloco Metro, onde estavam todas as propriedades de Santiago Uribe, quais vínculos havia com as autodefesas, se visitavam suas propriedades e se ele se reunia com os militantes. De repente podem perguntar às comunidades da região também.

OM: As AUC tiveram relação com o DAS (Departamento Administrativo de Segurança da Colômbia)?
DM: Quando nos desmobilizamos, pedimos escoltas ao DAS, por exemplo. Jorge 40 e muitos outros chefes paramilitares fizeram isso. Acreditam que teríamos pedido escoltas do DAS se não houvesse confiança e uma relação muito antiga?

OM: O bloco Centauros teve relação com os Falsos Positivos [assassinato de civis inocentes para inchar resultados da política de segurança]?
DM: Eu falei das provisões que paguei para 180 falsos positivos, já fiz a denúncia há quatro anos e nenhum outros desmobilizado contou e a promotoria não tem ido atrás dessa questão. Exércitos e paramilitares, coordenados com o coronel Cabuja, do Batalhão 21 Vargas, do estado de Meta, em conjunto tiravam pessoas das discotecas para matá-las e fazer com que passassem por guerrilheiros. Por que o governo não me garante segurança para esclarecer todos esses crimes, para que possamos dar pelo menos um pouco de reparações a todas as nossas vítimas?

OM: Vicente Castaño mandou matar o seu irmão Carlos?
DM: Não, mas não impediu que o crime acontecesse e não disse aos que propunham matá-lo que não o fizessem.

OM: Don Berna mandou que matassem o senhor?
DM: Sim, é verdade. Depois de matar Vicente, mandaram matar todos os seguidores de Castaño, mas um primo meu me avisou, que trabalhava no CTI (Corpo Técnico de Investigação) da promotoria, e que por isso desapareceu. 


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