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260912 banderavenezuelaVenezuela - Rebelión - [Tradução de Camila Lee para o DL] Entrevista com Germán Mundaraín, embaixador da Venezuela na ONU em Genebra


O dilema de fundo dos seguintes comícios na Venezuela do próximo dia 7 de outubro é a “consolidação dos avanços sociais ou o retrocesso para os modelos econômico-sociais do passado”. A pesar desse grande reto político que está em jogo, “respeitaremos rigorosamente a vontade popular expressada nas urnas”. Quem defende tais teses é Germán Mundaraín Hernández, atual representante da nação sul-americana ante as Nações Unidas em Genebra. Entre 2000 e 2007 havia desempenhado como Defensor do Povo. Desde maio deste ano integra, junto com outras cinco personalidades nacionais de primeiro nível, escolhidas pelo presidente Hugo Chávez Frías, o Conselho do Estado que é o órgão superior de consulta do Governo e da Administração Pública Nacional.

P: O que representa politicamente as próximas eleições presidenciais?

R: São a expressão de um exercício da democracia participativa que impera no meu país, que vem protagonizando desde a nova Constituição de 1999 em diante uma quinzena de eleições nacionais, parlamentarias, regionais e referendum. Na Venezuela se consulta sistematicamente ao soberano. Existe grande confiança na decisão do cidadão. O número dessas consultas é a melhor evidência. Existe um poder independente, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), que se apresenta ante o mundo sem nenhum complexo, com o ânimo de mostrar nossas fortalezas, mas também aberto para que suas possíveis debilidades sejam apontadas.

P: A campanha eleitoral é intensa e se confronta com uma imprensa internacional cautelosa, para não dizer crítica...

R: A sociedade venezuelana é uma sociedade muito pressionada pelo próprio processo de transformação que está em curso e por vários atores que intervieram na política nacional. Do lado de fora, às vezes, nos olham com desconfiança. Pesam que a qualquer momento poderia passar da retórica própria das nossas campanhas a agressões físicas. Porém, não é assim. O povo venezuelano é pacífico e sabe resolver pacificamente suas diferenças políticas nas mesas eleitorais. Até o momento, e já faltando poucos dias para o fim, a campanha foi intensa, de “ânimos esquentados”, mas correta e sem violências.

Campanha eleitoral polarizada, ainda que sem violência

P: A pesar de um processo eleitoral extremadamente polarizado?

R: Sim, é uma campanha polarizada. Estão se confrontando dois candidatos principais: o atual presidente Hugo Chávez, que aspira a reeleição, e o da oposição, Henrique Capriles Radonski. Isso aumenta a polarização retórica, já que ambos centralizam a atenção política nacional e internacional.

P: Particularmente diferente das eleições presidenciais anteriores?

R: O que muda são os agentes, porém tem um perfil global semelhante. O candidato da oposição sempre sai da parte do governo que conta com um pressuposto suficientemente amplo para bancar financeiramente uma parte da campanha. A outra parte vem do grande empresariado e de ONG e fundações estrangeiras, principalmente estadunidenses, que recebem o apoio do Departamento do Estado norte-americano. No ano de 2000, Chávez venceu Francisco Arias Cárdenas por mais de 20 pontos de diferença. Seis anos mais tarde, em 2006, derrotou Manuel Rosales com uma diferença de 25 pontos.

P: Que programa ou visão política representa cada um deles?

R: O presidente atual, candidato do Grande Pólo Patriótico, encarna o processo de mudança, a revolução bolivariana em curso. Capriles, da Mesa de Unidade Democrática, aglutina aos setores tradicionais, as elites, que durante décadas usufruíram do poder, estritamente ligadas às empresas transnacionais.

Os novos disfarces da direita

P: Chama a atenção, entretanto, que o candidato da oposição tenha se auto-designado como o “Lula da Venezuela”, apresentando-se quase como uma alternativa de esquerda democrática ao atual Governo...

R: É um estilo que marca a política ibero-americana atual. Candidatos que se disfarçam. O caso mais patético é o de Espanha. Mariano Rajoy se apresentou nas campanhas como expressão do centro político. Porém, assim que ganhou, não duvidou em aplicar seu verdadeiro programa de extremo corte neoliberal com significativos recortes nas conquistas sociais dos espanhóis. Capriles ocorre o mesmo. Ele se disfarça e diz que seu programa é parecido ao que implementou Lula no Brasil. Sem dúvidas, no Brasil, Capriles seria um opositor radical ao Partido dos Trabalhadores (PT) atualmente no Governo. Porque Lula foi obreiro, é socialista e dirige um partido progressista, que não tem nada a ver com a visão política de Capriles. Na realidade, a oposição venezuelana odeia o Lula, o modelo político que ele utilizou e o que utiliza a atual presidente e sucessora de Lula. Mas, tratam de se apresentarem o mais decentemente possível...

P: Por que este jogo político?

R: Para confundir. E por especulação política. Capriles está enraizado nos setores de poder econômico e parte da classe média. Esse é o eleitorado natural dele. Para ganhar deve tentar roubar votos nos setores populares. Porém, o verdadeiro programa que ele tem contempla zero presença do Estado e que o mercado se encarregue da economia. O primeiro que faria -em caso de que seja eleito- seria reduzir o Estado a sua mínima expressão, deixar ao setor privado que se encarregue da saúde, da educação, da moradia. Desmantelar as conquistas sociais. Por outra parte, o centro do programa do presidente Hugo Chávez é a atividade petroleira e o controle estatal da mesma. Sem o aporte desse vital setor não seria possível financiar a saúde, a educação, nem nenhuma das conquistas gerais, muito menos a ativa solidariedade internacional que promove o processo venezuelano.

O governo respeitará a voz das urnas

P: A pesar de numerosas enquetes que demonstram como claro ganhar Hugo Chávez, é imaginável, em términos políticos, que as enquetes se enganem?

R: São tantas e tão importantes as conquistas sociais que conseguiram os setores populares nesses últimos anos que um programa neoliberal e um governo de direita significariam um verdadeiro suicídio político para uma grande parte da população...

P: Aceitaria o Governo venezuelano uma eventual derrota nas urnas?

R: Se o Governo perde as eleições irá reconhecer imediatamente os resultados. Porém, gostaríamos de escutar também esta frase curta e significativa da parte da oposição. Nós temos certeza que si o atual Governo perde, o que é absolutamente improvável, não seria a derrota da revolução, mas sim um simples tropeço político. Entretanto, isso não irá ocorrer. O povo tem confiança plena no processo e na revolução bolivariana.

P: Existe na América Latina, faz um pouco mais que uma década, uma maioria de governos e processos democráticos, aberto, progressistas. Venezuela está estreitamente implicada em iniciativas de integração regional. Que repercussão tem as atuais eleições presidenciais no contexto continental?

R: Pergunta chave. No próximo 7 de outubro não somente se decide o futuro de Venezuela, mas também o de América Latina. Um triunfo da oposição significaria a liquidação do ALBA (Aliança Bolivariana para as Américas – Tratado de Comércio dos Povos) que reúne Bolívia, Nicarágua, Equador, Cuba, Venezuela e os Estado caribenhos Antiga e Barbuda, Dominica e São Vicente e as Granadinas. Seria colocada em xeque a estratégia do Petrocaribe que reúne a maioria das nações caribenhas. Significaria o enfraquecimento real do UNASUL. E também da CELAC (Comunidade dos Estados Latino Americanos e Caribenhos) que com tanto sacrifício foi criado em 2010 e que hoje reúne quase 30 nações do continente com cerca de 600 milhões de habitantes. Poderia, inclusive, significar a saída da Venezuela do MERCOSUL, mercado integrado por Brasil, Argentina, Uruguai e nosso país. Adicionalmente, haveria uma mudança nas relações e no comportamento do continente nos espaços internacionais como a Organização de Estados Americanos (OEA) e as Nações Unidas. Insisto: mais além da contenda eleitoral entre Chávez e Capriles, hoje está em jogo nas eleições venezuelanas esta nova relação de forças a nível regional que com tanto esforço foi sendo construída na última década.

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Um acompanhamento que não viole a soberania

O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) venezuelano convidou 214 personalidades do mundo inteiro para acompanhar os comícios do dia 7 de outubro, 110 da América Latina, 65 da Europa, 29 da América no Norte, 6 da Ásia e 4 da África, sem contar os representantes da União Africana que confirmou presença.

Entre os convidados, 18 organismos eleitorais e quatro expertos. Segundo o CNE, entre os convites enviados, 81 correspondem a parlamentaristas e personalidades políticas; 22 ao mundo acadêmico; 34 jornalistas e outras ONGs, intelectuais, artistas e agrupações sociais e gremistas.

Até mediados de setembro, 157 dos convidados haviam confirmado presença. Na terceira semana do mesmo mês o ex- vice-presidente argentino Carlos Álvarez chegou à Venezuela para instalar a delegação de acompanhamento eleitoral da UNASUL, responsável desse setor de atividades no organismo de integração.

“Acompanhamento não significa observação eleitoral”, afirma Germán Mundaraín, embaixador da Venezuela ante as Nações Unidas de Genebra. “O voto é o principal exercício cidadão na nossa democracia e ninguém pode controlar nossa própria soberania nacional”.

O acompanhante, explica, é “uma testemunha importante de que o processo transcorre com normalidade e profissionalismo”. E deve, além disso, “informar aos cidadãos o que viu nesta pequena nação sul-americana”. Sem subestimar o papel de “indicar ao CNE as correções a serem incorporadas a nível eleitoral para melhorá-lo no futuro”.

Se Suíça viajarão para assistir nos comícios seis personalidades políticas e um comunicador social. Entre os primeiro, o senador nacional Luc Recordon e os deputados nacionais Ada Marra, Antonio Hodgers e Mathias Reynard. Assim como o ex- deputado nacional Franco Cavalli e o ex-embaixador helvécio na Venezuela, Walter Suter.

“Uma delegação muito significativa em relação à quantidade e qualidade dos participantes”, sublinha Mundaraín, quem vê nesta presença, “um reconhecimento do Poder Eleitoral venezuelano à neutralidade e longa história de participação democrática eleitoral helvécia, assim como à colaboração que desde muitos anos Suíça tem brindado a esse poder do Estado”.

Foto: Cuasieconomista


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