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maduroVenezuela - Diário Liberdade - [Alejandro Acosta] Qual é o significado do rápido aprofundamento da crise capitalista? E qual é a política do governo de Nicolás Maduro para enfrentá-la?


O "chavismo" não está esgotado. Está em crise, mas a direita venezuelana está em uma crise ainda maior. Foto: Nicolás Maduro, presidente da Venezuela. Wikimedia Commons (CC BY 3.0)

No final deste ano, acontecerão as eleições legislativas nacionais, em meio ao aprofundamento da crise capitalista e aos ataques da direita. A PDVSA (Petróleos de Venezuela) está na mira.

O recente fechamento das fronteiras teve como objetivo conter a infiltração dos grupos de extrema-direita e reduzir o contrabando de alimentos e energia para a Colômbia.

A inflação e o desabastecimento dispararam. A queda do preço do barril do petróleo tem colocado o orçamento estatal em xeque. Os governos chavistas não diversificaram a economia. Eles direcionaram 40% do orçamento estatal para os programas sociais, mas não atacaram o capital, mantiveram os acordos e contratos com o imperialismo e não promoveram a diversificação da produção industrial. Essa política é típica dos governos nacionalistas já que representa os interesses de setores da burguesia nacional, apoiada nas massas, que entram, com frequência, em choque com os interesses do imperialismo.

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Mas o aprofundamento da crise capitalista na Venezuela não significa que o governo chavista esteja esgotado. A crise do chavismo aumenta por causa do aumento da carestia da vida, da inflação e do desemprego. Mas a crise da direita pró-imperialista é ainda pior. Se trata de uma direita ultra truculenta, que tem no “currículo” a entrega do país por meio das políticas neoliberais, que tem tentado derrubar os governos chavistas por meio de golpes de estado, mas que não tem nada a oferecer além do corte dos programas sociais e a entrega da PDVSA para os monopólios.

A política dos “chavistas” para enfrentar a crise

A extrema-direita promoveu uma série de mobilizações estudantis com o objetivo de desestabilizar o governo nacionalista burguês de Nicolás Maduro, da mesma maneira que tinha feito durante os governos de Hugo Chávez. O propósito declarado tem sido o de criar as condições para impor um governo de força contra a população, nos mesmos moldes dos recentes golpes de estado da Ucrânia, no Egito e na Tailândia, promovidos pelo imperialismo. Os grupos de extrema-direita têm sido usados como tropa de choque em movimentações similares que têm se intensificado em vários países. Mas quando Leopoldo López, um dos principais representantes da extrema-direita na Venezuela, foi confrontado pela base de massas do chavismo, a direitista MUD (Mesa de Unidade Democrática), liderada por Henrique Capriles, lhe retirou o apoio. Por quê?

Uma parte importante da população, principalmente nos bairros pobres, está armada. A esta situação se chegou com o fracasso do golpe de estado contra Hugo Chávez que aconteceu no início da década passada.

O governo Maduro tem buscado a negociação com o imperialismo norte-americano e com a direita que está unificada na MUD.

O “chavismo” se encontra dividido. Há setores que buscam reduzir o percentual do orçamento público direcionado para os investimentos sociais.

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O grande problema do nacionalismo é a ilusão na democracia burguesa, apesar das enormes limitações, o que tem conduzido à paralisia e à falta de políticas para enfrentar as políticas da direita, pois a única maneira para viabilizá-las seria a mobilização dos trabalhadores. A burguesia nacionalista é obrigada a criar um programa que contempla alguns aspectos da soberania nacional e alguns dos interesses dos trabalhadores.

A esquerda pequeno-burguesa, no geral, não consegue avaliar a situação e acaba oscilando entre os vários setores, e, muitas vezes, faz diretamente o jogo da direita. O enfrentamento entre o imperialismo e setores da burguesia e da pequeno-burguesia tem como base a luta econômica, e, portanto, a luta de classes, embora aconteça entre setores da burguesia, não necessariamente representando a luta entre a classe operária e a burguesia. Isso não quer dizer que não haja delimitação de determinados campos com interesses contrapostos.

O aprofundamento da crise capitalista na Venezuela e no mundo

A crise capitalista avança com grande velocidade na Venezuela impulsionada pela drástica queda dos preços do petróleo nos mercados especulativos internacionais. A direita se aproveita da situação para aumentar a pressão sobre o governo de Nicolás Maduro por meio do desabastecimento e outros mecanismos. Os alimentos básicos da cesta básica têm se transformado em artigos de luxo, sendo necessário enfrentar longas horas em filas para comprar um pouco de arroz, leite ou carne. A inflação é a maior do mundo, superando os 50% anuais. O fornecimento dos serviços públicos, com água e luz, tem piorado. O desemprego tem aumentado.

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Os efeitos do aprofundamento da crise capitalista estão aparecendo com força, mas não somente na Venezuela.

O Brasil entrou numa espiral de acelerado aprofundamento da crise capitalista. Na Argentina, a crise industrial e financeira, a inflação e o desemprego pioram a cada dia. No Chile, na Bolívia e no Equador, a queda dos preços das matérias-primas, nos mercados internacionais, está deixando cadáveres ou semi defuntos para trás.

Os governos nacionalistas não conseguem colocar em marcha ataques em larga escala contra os trabalhadores devido ao risco de implodir a base social. Se trata de representantes de uma burguesia fraca, ligada a interesses locais, que se apoia nas massas para garantir os seus interesses, que, em grande medida, são contraditórios com os do imperialismo. Na Venezuela, por exemplo, em torno de 40% do orçamento estatal tem sido direcionado a programas sociais para manter o apoio social. Tal o grau de radicalização das massas.

A direita pró-imperialista tenta impor a conhecida receita “neoliberal” dos pacotes de austeridade contra a população com o objetivo de que esta pague pela manutenção das taxas de lucro dos grandes capitalistas.

Para o próximo período, está colocada uma crise em larga escala que deverá atingir em cheio os países desenvolvidos, mas também a periferia. O fôlego das políticas monetaristas está chegando ao fim.

Nos Estados Unidos, o governo continua apresentando números sobre um suposto crescimento acima dos 3%. Na realidade, a crise avança a passos largos. De acordo com dados da USDA (o Departamento da Agricultura), o faturamento do setor agrícola deverá cair mais de 35% neste ano por causa da queda do preço de commodities como o trigo, o milho e o arroz.

Os preços do petróleo, dos minerais e das ações também têm despencado.

A queda dos preços das matérias-primas colocou no olho do furacão a periferia do capitalismo, que não tinha sido atingida em cheio durante o colapso de 2008, como Brasil, Rússia, África do Sul, a América Latina em geral, o Oriente Médio, a Ásia, a Oceania e a África. O valor do barril de petróleo caiu de US$ 110 no ano passado para quase US$ 40 no mês passado, o menor preço desde março de 2009.

A desaceleração da economia chinesa, que consome a metade das matérias-primas em escala mundial, e a crise da Bolsa de Xangai somente tendem a piorar a crise.

O capital especulativo tem procurado refúgio no estado burguês, nos títulos públicos. O endividamento se generalizou devido à escalada do parasitismo financeiro. Os nefastos derivativos financeiros transformaram o mundo numa espécie de casino financeiro, que conforma o coração da economia capitalista.

Alejandro Acosta é cientista social, colaborador do Diário Liberdade e escreve para seu blog pessoal.


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