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281112 MOVADEFPeru - La Haine - [Luís Arce Borja, tradução do Diário Liberdade] A satanização do Movadef relaciona-se com as pretensões de Ollanta Humala de apagar a memória histórica, através de uma "Lei do negacionismo" concebida pelos militares.


O governo peruano, "a esquerda legal" e todos os partidos oficiais estão organizando uma "frente comum" contra o Movimento pela Anistia e Direito Fundamentais (Movadef). Esta campanha assinala que este grupo é uma ameaça e que atua como infiltrado no sistema "democrático". Acusam-no de apologista do terrorismo, de seguir as palavras de ordem de Abimael Guzmán e que todas seus contorsões eleitoralistas são só para ocultar seus planos de voltar à luta armada.

Ao início, a mutação de Sendero Luminoso em um Movadef pacifista e eleitoral não causou muito barulho no galinheiro político peruano. Ao invés, os grupos de poder e seus partidos sentiram-se satisfeitos que seus antigos implacáveis inimigos, agora arrastando a seus pés se inseriam no sistema que ameaçava destruir. A coisa ficou séria quando o Movadef conseguiu coletar 300 mil assinaturas para ser reconhecidos como organização oficial pelo Júri Nacional de Eleições (JNE). Isto não foi perdoado e o JNE, além de não aceitar a legalização, acusou falsamente o Movadef de ter falsificado as assinaturas. As 300 mil assinaturas como número absoluto pode parecer bastante, mas é relativo se se levar em conta que Peru tem mais de 19 milhões de votantes.

O pânico nas filas do oficialismo foi que, atrás desse pacote de assinaturas, tinha jovens e adultos que, em lugar de sentirem terror da história da luta armada que se desenvolveu entre 1980 e o 2000, viam com simpatias o passado guerrilheiro de Sendero Luminoso e do Movadef. Com este grupo repete-se a história de guerrilheiros ou falsos marxistas-leninistas que tiram ganhos eleitorais graças à campanha e satanização que lhes faz o mesmo governo. Desta maneira, capituladores, traficantes e até traidores aproveitam a auréola de antigos lutadores sociais para ascender no sistema parlamentar e depois acabar como a quinta coluna dos grupos de poder.

Se as 300 mil assinaturas foram o detonador para o barulho contra o Movadef, não é o problema fundamental. Este problema tem que se analisar no enquadramento da decadência do sistema político peruano. Há que ter em conta que os governantes deste país, os atuais e os anteriores, são extremamente medíocres. Sua visão do mundo, se tiverem alguma, provém de ideias envelhecidas e reacionárias que a mesma burguesía europeia deixou de lado faz mais de meio século. São anticomunistas primários e estão submetidos às forças militares, que constituem o verdadeiro poder neste país.

A orientação teórica que recebem os militares peruanos não serve nem sequer para fazer a diferença entre esquerda e direita ou entre o marxismo e qualquer invento como o "pensamento Gonzalo". Por isso se verá que é corrente no Peru qualificar Javier Dez Canseco ou Alberto Moreno de Pátria Roja como se se tratasse de "comunistas", quando na realidade eles fazem parte da contrarrevolução no Peru. Enquanto em outros países latino-americanos os ex guerrilheiros se reciclaram com "sucesso" no parlamento, nos negócios, na corrupção, e até no governo, no Peru não se aceita os ex partidários da luta armada, não importa que tenham capitulado ou se tenham rendido.

A razão mais importante para a satanização do Movadef tem a ver com as pretensões do governo do militar Ollanta Humala de apagar a memória histórica do Peru. Este projeto foi concebido pelos militares e chama-se "Lei do negacionismo". Com esta "lei" tenta-se reescrever a história social e política que abrange o período de 1980 até o ano 2000. Isto significa transgredir a realidade e sob essa forma apresentar luta armada que dirigiu Sendero Luminoso (SL) não como uma guerra de classes, mas antes como uma ação terrorista e demencial que se desenvolveu à margem do povo e dos trabalhadores.

Tenta-se ocultar que a luta armada de 1980-2000, para além dos seus desvios ideológicos (causa fundamental para a capitulação e derrota), quase derrotou o Estado e levou o pânico ao seio das forças armadas e policiais. Essa luta de caráter popular pôs em evidência a extrema fragilidade do Estado e sobretudo mostrou que as massas pobres organizadas e armadas são forças imparáveis. Superiores a qualquer exército dos grupos de poder. O principal que quer fazer esquecer o governo é que essa guerra de classes contou com a simpatia e apoio de milhares de camponeses, estudantes, trabalhadores e moradores. Uma guerra como a que se desenvolveu no Peru não se sustenta 20 anos sem o concurso e participação dos pobres. A luta armada não se estende a todo o país sem bases de apoio revolucionárias. O pânico do governo é a ressonância da guerra popular e que ela sirva de precedente histórico nas lutas que empreenderão as futuras gerações do país.

O interesse de sepultar a história da guerra popular não só é do governo e os militares. A esquerda oficial tem também suas próprias razões. Foi a guerra popular de Sendero Luminoso o que pôs em evidência que os grupos e partidos da esquerda (oficial) chamados marxistas-leninistas e revolucionários eram simplesmente traficantes políticos que se infiltravam no seio das massas para impedir qualquer manifestação e rebelião contra o Estado e o sistema. A luta guerrilheira deixou em claro que o que se chama esquerda no Peru era somente uma combinação de lideres ambiciosos e carreiristas que usavam as massas para conseguir dádivas do governo de serviço e do imperialismo. Foi por isso que essa "esquerda" desde 1980 se pôs em primeira fila para colaborar e participar nos planos contrainsurgentes do exército e dos governos de serviço.

Refazer a história da luta social significa mudar o papel das personagens. Os criminosos devêm heróis, as vítimas convertem-se em vitimários e os guerrilheiros transformam-se em terroristas e demenciais inimigos da democracia e a liberdade. Transformar significa que só deve ficar na lembrança do povo o temor e o pesadelo da luta armada. Desta forma, uma rebelião que se sustentou duas décadas em plenos combates com militares, polícias e paramilitares, que se não tivesse mediado a capitulação, podia ter conseguido o seu cometido histórico, se converte em algo horroroso que há que massacrar na lembrança.

O temor e pânico à história não é novo em Peru. Antes de Ollanta Humala foi utilizado pelos colonialistas espanhóis durante a rebelião indígena tupacamarista. A 18 de maio de 1781, Tupac Amaru, já capturado foi amarrado a quatro cavalos que atiraram dele até ser desmanchado. Toda a sua família, incluída sua esposa e filhos, foram assassinados brutalmente. Após sua execução, todos os virreinatos da América Latina proibiram e declararam fora da lei o nome de Tupac Amaru. Pagava-se com a vida se alguém ousava o mencionar. Se alguém podia ser referido à rebelião indígena, só devia o fazer para dizer que Tupac Amaru e os camponeses que o sustentaram foram assassinos e criminosos. Assim pretenderam os espanhóis deter o curso da história e o fim da dominação espanhola. O resultado foi a derrota do colonialismo na América. Esperamos que assim ocorra agora no Peru.

O Movadef não é nenhuma ameaça para o sistema político peruanos, nem é um infiltrado no que se chama "democracia" peruana. Sua atuação política é consciente e está relacionada com a capitulação de Sendero Luminoso. Por isso suas propostas reformistas servem aos grupos de poder e aos partidos corrompidos do Peru. Avaliza a corrução política e concilia até com Keiko Fujimori quando em sua exigência de anistia geral inclui o criminoso Alberto Fujimori. Nas últimas eleições presidenciais apoiou a candidatura eleitoral do militar Ollanta Humala e com isso facilitou a entronização de um regime reacionário e pró imperialista. No campo sindical, uniu-se a "Pátria Roja", um dos grupos mas nefastos da "esquerda" legal deste país, e bastante responsável pela crise sindical no Peru. Nenhum grupo que pretenda iniciar ou reiniciar a luta armada, como assinala a propaganda do governo, se incrusta no aparelho eleitoral corrompido. Nenhum grupo político que pretenda mudanças revolucionários mente às massas com falsas promessas eleitorais e os conduz como carneros para votarem em candidatos dos grupos de poder.

Quando um partido político capitula e trai a luta armada, como é o caso de Sendero Luminoso, matriz do Movadef, faz isso seguro de seu giro para a direita e de sua renúncia à luta armada. Daí que os porta-vozes do Movadef tenham expressado seu arrependiminto pela guerra popular, assinalando que "essa guerra nunca deveu ocorrer". "Hoje não corresponde luta armada e sim luta política", diz o Movadef. Alfredo Crespo, porta-voz desse grupo, disse que esse movimento foi "criado para participar em eleições. Nós queremos participar e ter representantes nos governos regionais, autárquicos, em eleições gerais. Para isso nascemos". "Dentro disso", diz Crespo, "queremos uma reconciliação e uma anistia geral para civis, militares e polícias..." (1).

Nota: (1). Alfredo Crespo, subsecretário de Movadef, advogado de Abimael Guzmán, Entrevista da 'Revista Quehacer', Lima Peru.


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