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170814 guido-estelaArgentina - Opera Mundi - Ministério Público pediu que processo sobre apropriação de Ignácio Hurban seja incorporado ao da mãe Laura, para esclarecer relações em torno da adoção ilegal.


Depois de ter encontrado a verdadeira família, após mais de 36 anos sendo procurado pela avó materna, Ignacio Hurban decidiu que o processo de aceitação de sua nova realidade incluirá a adoção do nome escolhido pela mãe ainda grávida e pelo qual foi chamado durante todo esse tempo pelos familiares. Assim, o neto da presidente da Associação das Avós da Praça de Maio, Estela de Carlotto, passará a se chamar Ignacio Guido.

Apesar de ter tomado conhecimento de que o verdadeiro nome do neto era Ignacio, Estela se recusou a chamá-lo assim e explicou o motivo da relutância assim que o conheceu: “Vou te chamar de Guido porque sua mãe, do cativeiro, trouxe a mensagem dizendo que estava te esperando e que se fosse homem, que para te chamarmos de Guido”.

“Olho Guido e penso que esteve na barriguinha de Laura [sua filha morta durante a ditadura militar]. Me encontrei com uma pessoa maravilhosa. Encontrei Guido e então Laura não está morta”, disse Estela durante entrevista à radio Metro nesta quinta-feira (15/08).

Estela já declarou diversas vezes que o encontro de Guido não a fará arrefecer a busca pelos demais 400 netos que seguem desaparecidos. “Temos que seguir buscando os que faltam porque outras avós têm que sentir o que eu estou sentindo”, declarou anteriormente.

Investigação

O encontro que comoveu a Argentina, além de ter impulsionado a curiosidade de jovens que pensam que também podem ser filhos de desaparecidos, deu um fôlego novo ao debate em torno dos milhares de desaparecidos políticos durante a ditadura militar no país (1976-1983).

Hoje, o Ministério Público pediu que o processo a respeito da apropriação de Guido seja transferido para a cidade de La Plata, em Buenos Aires. De acordo com o órgão, o caso deve ser acrescentado à investigação em torno do sequestro e homicídio de Laura Carlotto no centro de detenção clandestino “La Cacha”, localizado neste município.

“Nem o lugar de nascimento da criança, nem o distrito onde foi inscrito falsamente são dos dados centrais a ter em conta”. Os promotores de Justiça Hernán Schapiro e Marcelo Molina esclareceram que o que realmente tem relevância é o “fato de que a apropriação de Guido Montoya Carlotto teve como antecedente imediato, necessário e imprescindível o sequestro e privação ilegal da liberdade de sua mãe”.

Os promotores ressaltaram que o fato da criança ter sido entregue a um casal que não podia ter filhos no município de Olavarría é um laço a mais na cadeia de fatos criminosos do sequestro e assassinato de Laura Carlotto. Além disso, a investigação conjunta permitirá esclarecer questões como os elos de cumplicidade que permitiram a apropriação do bebê e a trama de pessoas envolvidas no esquema ilegal.

Assim, o caso sairia da tutela da juíza María Servini de Cubría. De acordo com a imprensa argentina, Estela não gostou do comportamento da magistrada que revelou a identidade do neto, que a presidente das avós queria preservar.

Entenda o caso

No dia 5 de agosto, a Associação das Avós da Praça de Maio anunciou que aresidente havia encontrado o neto desaparecido há 36 anos. Daniel Mariani, militava na organização Montoneros, assim como Laura. Mariani morreu durante o tiroteio no qual a mãe, Laura, foi capturada para ser posteriormente transferida para o centro clandestino de detenção La Cancha. Guido foi separado da mãe assim que nasceu no Hospital Militar Central de Buenos Aires. Testemunhas disseram que ela só pôde vê-lo por cinco dias. Dois meses depois, foi assassinada e teve os restos entregues à família.

Pianista, arranjador e compositor, Guido é autor de três discos e já trabalhou com importantes nomes da música argentina e internacional. Ele passou a ter dúvidas sobre a identidade e por isso se apresentou voluntariamente à sede das avós para fazer um exame de DNA, que confirmou que ele é o filho de Laura.

A recuperação de Guido coroa o intenso trabalho que Estela realizou desde novembro de 1977, quando a filha Laura, de 23 anos e grávida de dois meses, foi detida e levada para o campo de concentração na cidade de La Plata.

Formada em magistério, profissão que exerceu durante 17 anos, Estela de Carlotto se incorporou em 1978 ao então recém-fundado grupo de Avós da Praça de Maio, e dois anos depois foi nomeada vice-presidente.

Em 1987, sobre a base de um projeto da organização, foi aprovada uma lei que criou um Banco Nacional de Dados Genéticos. Nele ficou registrado o mapa genético de cada uma das avós de Praça de Maio.

Em dezembro de 1998, o parlamento argentino aprovou a lei de Criação do Fundo de Reparação Histórica para a localização e restituição de crianças roubadas, que outorgava às Avós de Praça de Maio um subsídio que equivalia na época a US$ 25 mil mensais durante dois anos. Em 2004, o fundo foi restabelecido com um subsídio mensal de 15 mil pesos (US$ 3,9 mil).


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