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festival indianoBrasil - Blogueiras Feministas - [Catarina Corrêa] Estamos constantemente advogando por uma democracia que se exerça para além do voto, e pela participação política popular. Em um ano eleitoral, marcadamente enfático na reafirmação do voto, a participação se faz mais necessária do que nunca.


Além de ser um espaço onde trocamos ideias, criamos discursos e defendemos posições, a participação deve ser um qualificador do voto, na medida em que contextualiza todas e todos como sujeitos, como participantes de um sistema político.

Participar é ainda mais importante, porque somos plurais e queremos construir uma sociedade que espelhe essa pluralidade. Assim, cada um de nós, com suas subjetividades, com suas experiências particulares, opiniões e valores deve demandar um lugarzinho que seja (e que seja um lugarzão) para se fazer ouvir: um lugar onde aquilo que somos se transforme em propostas de uma sociedade que nos inclua e que nos respeite.

Mas, bem, os espaços de participação – o conselho escolar, a câmara, as assembleias legislativas, as reuniões de condomínio – são dominados por uma lógica de racionalidade. Uma lógica que impõe obstáculos à construção da subjetividade dos sujeitos políticos e sociais. A forma de falar e agir é tão pré-formatada, que parece que não nos cabe, que o nosso jeito de ser não pode falar ali. Especialmente para alguns grupos, para minorias que somos (mulheres, negras, trans, lésbicas e tantas outras) a participação precisa se apoiar na luta, no sofrimento e na condição de marginalidade, que não deve ser submetida ao imperativo de linguagem e racionalidade de espaços políticos hegemônicos: a voz que eu quero é a minha, não aquela que reforça o jeito político de falar.

São espaços onde o nosso discurso, gritado, chorado, xingado, sofrido, pessoal, com sotaques mil, se transforma no discurso ilustrativo da política pública economicista. No entanto, nossas experiências nem sempre podem ser racionalizadas. A violação, simbólica ou não, do nosso corpo, é sensorial e sensitiva, particulariza-se nas nossas lutas políticas, como diferentes mulheres e homens que somos.

É imprescindível constituir espaços de fortalecimento, de discussão, de posicionamento e de experiência da participação política dentro do próprio feminismo. Vamos lutar contra a condição de verdade que determinadas posições sociais impõem sobre nossos corpos e nossas demandas políticas.

Devemos participar não para conciliar ou descontruir interesses apenas; devemos participar para fomentar a própria participação. Participar entre nós mesmas, decidindo que compromissos queremos com os direitos das minorias dos próximos políticos eleitos, dos atuais, dos que não forem eleitos, e de nós mesmas nos anos que se seguem.

É preciso viver e criticar os feminismos, é preciso debater com os feminismos, mas é preciso também partir para fora: construir discursos que sejam permeáveis em espaços de transformação política.

Não se trata de forçar um consenso impossível. A conflituosidade e o reconhecimento de diferenças não meramente ilustrativo que buscamos no espaço político institucional e dos movimentos sociais deve também necessariamente se calcar no reconhecimento das relações de subordinação e hierarquias que nós mesmas vivemos e perpetuamos – e por isso, mais do que nunca, a interseccionalidade é fundamental para fortalecer o feminismo transformativo contra a sociedade opressora e careta.

O meu feminismo tem uma dimensão utópica. Não é utópico por ser impossível, mas sim, por pretender transformar o espaço a partir de um horizonte do que é o ideal. Embora eu gostaria, não acho que tudo vá se transformar da noite pro dia após uma lua vermelha, mas pretendo levar meu ideal de sociedade feminista, igualitária, justa, dialógica, democrática, anarquista para qualquer espaço que eu ocupe (e pretendo ocupar ao invés de apenas estar). E os lugares, e o mundo há de se transformar. E o feminismo há de me dar força e voz para que lutar não seja apenas necessário, mas para que não lutar seja impossível.


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